O que a saúde e a Toyota têm em comum?

o que a saúde a a Toyota têm em comum

Por Luciana Montez Moreira – Gerente de Desenvolvimento Humano e Organizacional na Tecnoarte Gestão em Saúde

 

A resposta a essa pergunta já não é mais um mistério para a área da saúde. De algum tempo pra cá muito se tem falado de como a filosofia nascida e desenvolvida no chão de fábrica da indústria automobilística japonesa pode ajudar na crise que vem enfrentando a saúde no mundo. Trata-se da filosofia denominada Lean Thinking ou Mentalidade Enxuta e sua aplicação no que foi chamado de Lean Healthcare.

A filosofia Lean é um modelo de gestão e estratégia de negócio concebido a partir do estudo do Sistema Toyota de Produção, no Massachusetts Institute of Technology (MIT), e baseia-se, fundamentalmente, no conceito de eliminação dos desperdícios, foco nas reais necessidades da organização e melhoria contínua. O modelo Toyota surgiu no final da década de 40, mas ganhou fama a partir dos anos 90 com a denominada filosofia Lean.

Sobre a lógica do desperdício, ela envolve oito fatores considerados essenciais:

Retrabalho – necessidade de refazer alguma coisa decorrente de um erro ou defeito no processo;

Espera – pessoas aguardando,

Movimentação – pessoas se movendo sem necessidade;

Estoques – materiais e informações que não fluem, ficando “parados” no meio do processo, sem necessidade;

Transporte – movimentação desnecessária de materiais e informações;

Excesso de processamento – etapas redundantes ou simplesmente desnecessárias sob a ótica do cliente/paciente;

Desconexão – interrupções indesejadas nos processos;

Talento – desperdício de potencial criativo humano e suas formas de manifestar os conhecimentos e habilidades adquiridos.

Não é difícil perceber os desperdícios dentro das unidades de saúde, mesmo quando se trata de atendimento clínico em consultórios, que aparentam uma baixa complexidade nas funções e processos. É a identificação desses desperdícios, quase sempre não percebidos imediatamente pelos gestores/médicos por conta do dia a dia peculiar das atividades que exercem, que faz toda a diferença numa gestão enxuta.

O Lean utiliza-se de métodos de análise e soluções de problemas que conduzem ao levantamento do que é essencial para a gestão do negócio e alcance dos benefícios desejados, como: VSM (Value Stream Map) ou Mapeamento do Fluxo de Valor, mapeamento e modelagem dos processos; criação de times de trabalho para gerir e replicar a mudança, A3, 5 porquês, análise de causa raiz, entre outras. Algumas ferramentas são típicas da fábrica japonesa, como o Poka Yoke, Jidoka e o Kanban.

O que essencialmente deve ser considerado como um princípio norteador de toda a filosofia é o chamado Kaizen ou melhoria contínua. Sim, este é o ponto decisivo de qualquer trabalho enxuto. Uma vez começado o trabalho, o foco central é na melhoria contínua das pessoas, dos processos e dos sistemas envolvidos.

O Lean Healthcare apropria-se das considerações da filosofia do chão de fábrica e as aplica na gestão da saúde. No Brasil, os hospitais privados foram os pioneiros nessa iniciativa, visando a melhoria nos indicadores de gestão e as certificações. Em seguida, unidades públicas passaram a utilizar a filosofia, apontando para contextos específicos, mas sempre com o foco na melhoria da gestão, com uma abrangência que cada vez aumenta mais, englobando, atualmente, clínicas e consultórios médicos.

No mundo, as iniciativas em Lean Healthcare iniciaram-se, principalmente, nos EUA, por volta do ano 2000, e vêm obtendo resultados impressionantes. Há alguns anos, com o advento da crise econômica europeia, passou a ser utilizado em muitos países do velho continente.

O fato é que já despertamos para a necessidade de um novo modelo de negócio para a saúde. Custos, qualidade ponta a ponta, recursos humanos capacitados e motivados, são apenas algumas das muitas proposições que têm sido levantadas pelas mais diversas áreas de pesquisa. A complexidade deste modelo está relacionada a tantas variantes que desperta interesse nos mais diversos setores: os recursos para manutenção da vida são infinitos; a saúde possui uma enorme produção acadêmica, regulatória e de protocolos universalmente exigidos; o custo da falha é imensurável e o modelo tradicional apenas centrado na experiência médico é insustentável.

Em 2006, a IBM Global Business Services publicou estudo com a previsão do cenário da saúde para 2015 e já alertava: “Alimentadas pelas incansáveis pressões de custo, qualidade e acesso, acreditamos que as duas primeiras décadas do século 21 serão caracterizadas pela crise que será enfrentada pelos sistemas de saúde ao redor do globo. Os consumidores estão exigindo serviços de saúde em maior quantidade e de melhor qualidade. No entanto, em quase todos os países, a demanda por serviços de saúde cresce mais rapidamente do que a disposição e, pior ainda, do que a capacidade de pagar por eles”.

Nesse contexto, ser enxuto passou a ser uma necessidade para ajustes imprescindíveis aos novos modelos de negócio.

Na área oftalmológica, o trabalho tem avançado especialmente em clínicas de cirurgia e microcirurgia, com a otimização da utilização dos centros cirúrgicos. No atendimento clínico, o destaque está na melhoria e automatização dos processos centrado na experiência do paciente e dos profissionais envolvidos.

A implementação da filosofia agrega resultados não só de custos, mas motivacionais, de liderança e de qualidade para todos os envolvidos.

Lean Startup, Lean Seis Sigma, Lean Manufacturing e o Lean Enterprise são alguns dos exemplos de negócios que, assim como a saúde, uniram a cultura oriental e as teorias de produção do “Toyota Way” para remodelar seus negócios.

 

*Fonte: www.lean.org.br ii Daniel T Jones, Chairman, Lean Enterprise Academy

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